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Por que o Grãos de Luz e Griô é uma das principais atrações do Festival de Lençóis há 19 anos?

Quem tem história pra contar, conta. O Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô tem muita história, porque tem tempo de estrada neste chão, neste grande território que é a nossa Chapada Diamantina, e sim, nós somos daqui, e somos contadores de histórias; somos Griôs.


"Ter a Banda Griô em todas as edições do Festival de Lençóis foi uma grande honra. Além da responsabilidade social e cultural, o Grãos representa um compromisso com a diversidade de grupos da cultura local. A Banda Família Grãos de Luz e Griô sempre se preparou muito para essas apresentações e sempre foi uma atração muito esperada, inclusive trazendo novidades e outras atrações musicais de renome nacional. É uma honra e certeza de um espetáculo bonito, sério, comprometido e que só temos a agradecer. Parabéns Banda Griô, parabéns pelo trabalho, a Márcio e Líllian, educadores griôs chapadenses, a toda a equipe, a todos vocês artistas que fazem parte desse projeto que pra mim é maravilhoso. Enquanto tiver o Festival de Lençóis e eu estiver à frente eu quero essa atração como uma das principais, porque é muito representativa. E representatividade importa!", afirma Paula Rezende, Pau Viola

Inicio esta história agradecendo a Paula Rezende pelo carinho e parceria, nestes 19 anos, que o Festival de Lençóis completa com esta edição especial de 2021. Nossas apresentações são chamadas, por nós, de Aula Espetáculo e o nome, me parece óbvio, pois, está muito além da apresentação de uma banda, somos uma família, contadora de história que acredita na educação, na arte, na vivência, na cultura.


Mãe Água foi a primeira aula espetáculo apresentada pela Família Grãos de Luz e Griô no Festival de Lençóis. Foram 19 aulas espetáculos da pedagogia griô apresentadas nesses 21 anos, desde 1999, com temas diversos criados em roteiros da educadora Líllian Pacheco com seus estudantes por várias gerações em Lençóis, envolvendo mais de 200 pessoas no palco, pertencentes a 30 grupos artísticos e culturais da cidade, entre eles reizado, capoeira, jarê, hip hop, samba de roda, maculelê, quadrilha, percussão, dança, teatro, contação de histórias, música, artes gráficas, produção cultural e audiovisual.



Delvan Quilombola, 34 anos, educador, capoeirista, ilustrador e produtor audiovisual, se lembra de Mãe Água em 1999, quando ele pequenino, representava a nascente do rio, caminhando de volta pra Jaciara Santos, (11anos) que representava na dança, sua mãe. O público chorava no final sensibilizado pelos conflitos e esperanças sobre o tema da água tão bem coreografada nos corpos de 40 crianças. São memórias inesquecíveis. Jimmy Page, guitarrista do Led Zepellin, que era um dos parceiros financiadores do Grãos, assistiu Mãe Água no Teatro de Arena e ficou impressionado com a qualidade artística na atuação das crianças e no roteiro. Mãe Água gerou mais tarde outra aula espetáculo Três Vidas e um Rio, numa caminhada do Velho Griô e da Lavadeira em 16 municípios da Chapada, aprendendo sobre os conflitos da questão da água e facilitando diálogos entre os povos ribeirinhos, o poder público e os fazendeiros.



Vitor Darlan, educador, músico e quilombola, lembra da pesquisa sobre a história da Griô Quilombola Mãe Rosa que gerou a aula espetáculo, o livro e filme (para assistir é só clicar) "O Mito do Diamante", onde a história de Rosa denuncia a luta das famílias garimpeiras na Chapada Diamantina. Mais tarde a Velha Griô Rosa foi homenageada também com o nome da Quadrilha do bairro do Tomba - RosaLina, na qual Darlan participa desde a fundação.


E a história de Dom Obá? O príncipe negro nascido em Lençóis, neto do último imperador que manteve unido o império yorubá nagô de Oyó, na África, foi conteúdo do tema da aula espetáculo Sou Negro, resultado do projeto pedagógico que trabalhou com a implementação da lei 10.639, que obriga o estudo da história e cultura dos africanos e afrobrasileiros nos currículos das escolas.





Com essa aula espetáculo e outras semelhantes o Grãos atravessou mundos e foi representar o Brasil no maior Festival de Culturas Populares e Tradicionais em São Paulo, depois em 5 palcos por dois anos seguidos na Espanha, onde brilharam 30 crianças, jovens, educadores, mestres(as) Griôs das comunidades de Lençóis. Nessas viagens, a família Grãos fez intercâmbio cultural envolvendo alimentos, saberes, línguas e artes com mais de 400 pessoas de grupos tradicionais do Japão, Espanha, Portugal, Dinamarca, Alemanha, Polônia e outros países.

Em cada aula espetáculo um tema identitário para aprender e lutar. Na época do golpe, o Grãos sobe ao palco com a aula "Salve a Democracia" e o Velho Griô com os jovens contam a história da ditadura, da luta pela liberdade e a história de vida de Gilberto Gil, que foi parceiro do Grãos na coordenação da Ação Griô Nacional com o #MinistériodaCultura.



Na aula espetáculo "Machismo Mata Feminismo Liberta", a revolução de gênero do Grãos sobe ao palco do Festival de Lençóis com 30 jovens para gritar que estamos vivos contando, dançando, cantando e abraçando a história de jovens LGBTs da cidade, do mundo das artes e especialmente da atriz transgênero Jenny Miller. O cantor André Fonseca interpretou a célebre Malayka e a Banda Grãos deu um show de beleza no seu figurino transcontemporâneo. Quem não viu Samira Soares desfilando linda, negra, lésbica, mestranda em letras, com suas palavras de empoderamento e amorosidade, perdeu uma grande aula.




Quem lembra do griô aprendiz Ricardo Boa Sorte contando a história das sanfonas, onde Mestre Aurino toca sua Oito Baixos e o jovem Elison Moura tecla as transformações do forró desde o tradicional até o mais contemporâneo?




A História da Black Music foi uma aula que revelou a diáspora negra e a reinvenção da música ocidental por influência da cultura africana em momentos mágicos entre a poesia de Gog, Nelson Maca e a juventude hip-hop de Lençóis.


Em "Enegrecer os Currículos" (assista aqui) jovens grãos reivindicam novamente a implementação da lei 10.639 na luta por uma educação antirracista. Os mesmos jovens que quando criança lutaram com a aula espetáculo Sou Negro. Rose Lane Santos, grande atriz e dançarina formada no Grãos brilhou com sua atuação junto com dançarina Ivana Paixão, finalista no concurso Beleza Negra do Ilê Ayê e princesa do Malê de Balê. É inesquecível as coreografias maravilhosas de danças do professor Toni Silva e o grupo Afro Grãos em suas expressões de corpos diaspóricos sujeitos de sua própria história.




Músicos locais reconhecidos como Edson B.A., Tainã Pacheco, Marcos Marques, White, Leo Batera, Diego Souza, Dieles Souza, Eniele Santos, Graziella Barbosa, Vitor Darlan, Dauan Santos, Jamile Santos, Charlaine Nascimento, Elisson Moura, Larissa Góis, André Fonseca, Tairine Silva se formaram desde pequenos no estúdio, banda e palco do Grãos, assim como no palco do Festival de Lençóis sempre acompanhados por Mestras(es) Griôs cantadores e instrumentistas das comunidades e bairros locais.






Músicos incríveis convidados para tocar com a Banda Griô, choraram por ouvirem suas histórias na kora do Griô aprendiz Márcio Caires, o paijé da família. O happer Gog, a sambista Juliana Ribeiro, o tocador de reggae André Sampaio do Ponto de Equilíbrio, o africano de Moçambique Rás Haitrim, além de outros grandes artistas se irmanaram ao Grãos de Luz e Griô e passaram a ser parentes em luta. Ao final de cada aula espetáculo a peixão pela arte e pela cultura entrelaçaram as histórias de vida da família grãos com as famílias de Lençóis na certeza de que não estamos sós, somos parte do mesmo sonho da vida. Quanta saudade desse abraço no palco e de viver a luz no rosto desse sonho chamado Festival de Lençóis.



É muita história, viu? Para quem quiser conhecer mais um bocadinho, temos um canal no #youtube que é gerido pelos jovens, a nossa Web TV e Cineclube TIVI GRIÔ é só clicar e conheça mais desta longa caminhada, caminhada, uma andança de pessoas que nasceram e cresceram em redes e rodas no seu próprio território, herdeiras da cultura de Lençóis e da Chapada Diamantina.















Um cheiro para Paula e toda sua equipe da Pau Viola.




Líllian Pacheco

Educadora e escritora

Coordenadora do Grãos de Luz e Griô




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